22 de mai. de 2010

Gothic Girls

Antes de iniciarmos esse artigo, seria necessário explicar ao leigo o que significa Gótico como subcultura. Porém, isso demandaria muito tempo e sei que você não está aqui para ler esse tipo de coisa, de modo que se estiver interessado, pesquise por conta.

Então, vamos ao que realmente interessa. O estereótipo (ou exemplo) de indivíduo gótico retratado em animes, mangás, desenhos e comics. Alguns personagens (especialmente femininas) podem ser rotuladas inicialmente como "góticas" devido exclusivamente á sua estética. Assim sendo, falarei dessas garotas que são "góticas" no sentido literal (estético) da palavra e não exclusivamente á sua personalidade e fatores que podem ou não estar interligados.

Para começar, vale lembrar que personagens que possuam uma estética realmente gótica começaram a surgir em certas séries animadas japonesas e americanas realmente "bombaram" depois do ano 2000. Isso aconteceu porque depois de alguns anos ás escuras, o gótico como tribo urbana tornou a ganhar certa notoridade curiosamente motivada por bandas que nada tinham á ver com o estilo gótico.




Porém, independente do caso ser correto ou não (certamente que não) a mídia e a moda passou a apoiar tal tendência e logo vimos (e ainda vemos) pessoas aderindo á tal estética. E o Japão, como sempre atento ao estilo em destaque não poderia deixar de passar a oportunidade de utilizar o indivíduo gótico em seus animes e mangás. Pode não parecer, mas um personagem gótico é altamente dinâmico e além do apelo estético, possui ótimo retorno entre o público, principalmente adolescente.
Claro que existe uma clara diferença entre o estereótipo gótico em personagens americanos e adolescentes. O americano, por ter mais real contato e mercado (cultural,visual,musical e etc) com a cena gótica, mantém os personagens mais próximos do que poderia ser definida com a realidade da cena ou usando e abusando dos estereótipos exagerados presentes nos filmes e séries televisivas.

Já o Japão possui um apelo quase que totalmente voltado ao "gothic lolita" - uma tendência nipônica que embora muitos pensem, não possui qualquer conexão com a cena gótica, fugindo assim do estereótipo americano, mais popularizado.


Personagens Góticas Americanas


Na série X-Men Evolution, os mutantes estão em uma versão adolescente e, como frequentam a escola, cada um parece seguir o estereótipo de colégio americano. Assim, Vampira e Feiticeira Escarlate são dois exemplos inconstestáveis de góticas.


Vampira é uma gótica padrão em qualquer aspecto. Além das roupas e maquiagem, sua personalidade rebelde/stressada, solitária e agressiva é um exemplo comum de gótico adotado pela mídia americana. Ainda nessa linha, Vampira possui um sarcasmo e um lado altamente confiável quando necessário.

Feiticeira Escarlate segue mais ou menos a mesma linha. Além da estética eo comportamento revoltado/stressado, ela é agressiva e carrega muitas bijouterias de simbologia pagã. Wanda é a Feticeira Escarlate e os produtores levaram isso á sério, transformando-a literalmente em uma bruxa gótica.

Se repararmos, o desenho de Wanda lembra muito a personagem Nancy do filme Jovens Bruxas (The Craft no original) incluindo o cabelo e a postura. Jáo desenho de Vampira, mais original foi utilizado na comédia animada Ilha dos Desafios: a gótica Gwen é idêntica á Vampira da série Evolution em todos os aspectos.



Ainda em X-Men mas agora nas Hqs, temos Laura, mais conhecida por X23. Na segunda história solo da personagem e posteriormente nos X-Men, Laura é uma gótica (com base no estereótipo americano original) em todos os sentidos. Visual gótico em todas as ocasiões, ela é bonita, sarcástica, rebelde, inteligente, melancólica e não leva desaforo para casa.

Nesse ponto ela e a Morte ( de Sandman e uma das primeiras personagens realmente góticas) são muito parecidas. A diferença é que a Morte é mais adulta, não exagera no visual em todas as ocasiões e é na maioria das vezes alegre, ao contrário de Laura. Talvez Morte seja uma gótica mais "real" para contrastar com seu irmão gótico Sonho.
Outra personagem dos comics americanos é Nico Minoru da série de super-heróis adolescentes: Fugitivos (Runways). A japonesinha é uma fusão de estilo gótico com gothic lolita. E isso é provado principalmente em suas roupas. A maioria são vestidos de babados e acessórios delicados mas usa em conjunto munhequeiras e outros acessórios diferenciados. Seu jeito também é semlhante para os dois casos. Provavelmente isso advém da tendência de mesclar os dois estilos estéticos que são são utilizados por grande parte das adolescentes góticas hoje em dia. Assim como a cena gótica influencia os animes e mangás, logo estes reinfluenciam a estética da cena gótica. Como um círculo vicioso.

Há ainda Ravena do desenho Jovens Titãs. Embora não ostente um visual muito carregado,ela é reclusa, sarcástica, estranha e que gosta de bruxaria e filmes de terror. A perfeita gótica estereotipada padrão.
E os produtores americanos não temem essa tendência, pelo contrário. A exploram e mesclam em suas personagens.

Personagens Góticas Japonesas


Talvez a gótica mais popular do Japão em quesito anime/mangá tenha sido a Misa Amane de Death Note. A loirinha é uma típica gothic lolita, alegre e hiperativa, além de ingênua e sonhadora, fugindo então do estereótipo padrão da gótica sarcástica e melancólica. Misa é o tipo de adolescente que acompanha um estilo específico apenas para estar na moda e se destacar na multidão. Normalmente personagens góticas são inteligentes e realistas, mas Misa é uma excessão á regra.

O desenhista Takeshi Obata diz que, embora tenha usado o visual gothic lolita em Misa, não quis exagerar, de modo que seus trajes tornaram-se mais para um "gótico urbano" para que Misa agradasse até mesmo os leitores que não apreciam o estilo. Ainda hoje os cosplays de Misa Amane são muito populares no meio otaku.



A mangaká Kaori Yuki, famosa por suas obras "polêmicas" explora muito o conceito gótico em seus desenhos e enredos. Embora grande parte da estética de personagens esteja fortemente enraizada no visual kei para o masculino e no gothic lolita para o feminino. Assim as garotas góticas de Yuki estão mais voltadas para o comportamento infantilizado do gothic lolita do que para o estilo gótico propriamente dito. Vejam o mangá de God Child por exemplo.

Porém, Yuki explorou muito bem o conceito de androgenia na(o) personagem Belial de Angel Sanctuary. O estilo e comportamento de Belial é um arquétipo tradicional e presente na subcultura gótica.
Muitos mangás abordam personagens góticos (como Monster Princess) mas a grande maioria é referente ao gothic lolita que, como mencionado, não possui qualquer conexão com a subcultura gótica.
Porém, em certas obras exclusivas em anime ocasionalmente podem possuir uma personagem "gótica". E citarei duas.

A primeira é Robin, do anime Witch Hunter Robin. Esteticamente, ela faz o estilo gótico tradicional, com longos vestidos vitorianos de aparência fúnebre. Robin é uma garota séria, introspectiva e solitária. Ela aparenta não seguir tendência alguma, simplesmente age da forma que é, embora as pessoas costumem estranhar tal comportamento.

Já Re-L Mayer de Ergo Proxy é completamente diferente e seu estereótipo é muito mais condizente com a realidade - comum. Pela história ser ambientada em um futuro decadentista, Re-L é adulta e seus trajes, embora com o evidente estilo gótico são mais elegantes e sociais. E sim, seu rosto foi baseado na cantora Amy Lee.

Re-L ainda é dotada de uma personalidade complexa, fria, racional, inteligente e até um pouco egoísta. Enfurece-se com facilidade e mesmo sendo exigente conquista admiradores.



Para finalizar esse artigo é válido e necessário mencionar o mangá americano Vampire Kisses. Baseado na série de livros adolescentes de Ellen Scheiber, a história da adolescente que tem o sonho de namorar um vampiro de verdade é algo embarcado na onda de Crepúsculo. Porém ao contrário deste, Vampire Kisses se salva graças á protagonista.
Raven Maddinson é uma gótica inegável. Além da estética (no mangá ela faz um verdadeiro desfile de roupas), ela própria admite várias vezes que é gótica, levando ao pé da letra todos os estereótipos e "absurdos" que normalmente são relacionados aos indivíduos góticos. Adora coisas aterrorizantes,usa visual incrementado em qualquer lugar, frequenta cemitérios e etc.

Com relação á personalidade, Raven parece uma mescla de Misa com Vampira (x-men evolution). É alegre, hiperativa, mas inteligente e sarcástica. Sua vitalidade é o que conquista seu namorado vampiro e lhe acarreta problemas.
No enredo há ianda Kat, a única garota meio-vampira da gangue de Claude. Embora também utilize visual incrementado é mais voltado para o gothic lolita e sua personalidade é agressiva e reclusa, como o o oposto de Raven.
Aliás, todos os personagens (á excessão de Becky e Trevor) são góticos em Vampire Kisses. Sendo interessante notar que cada um ilustra um estereótipo comum da cena gótica.

Existe outras personagens e provavelmente mais surgirão com o passar do tempo, pois a subcultura gótica sempre influenciou diversos segmentos artísticos desde seu surgimento na década de 80, de modo que mangás e quadrinhos, tão presentes na cultura de massa - adolescente ou não - não poderiam manter-se isento dessas tendências.

~*~

Esse artigo foi só uma pincelada sobre o assunto pois é extremamente exaustivo condensar tal enredo e todas suas subdivisões em uma simples análise. Caso você não concorde com algo escrito aqui e queria contribuir para melhorar esse artigo, favor entrar em contato.

Perfect Blue


As animações longas para adultos criadas exclusivamente para cinema são um pouco raras em comparação com a diversidade de animes em série. Entretanto tais obras exclusivas além de possuírem excelente roteiro tornam-se verdadeiros marcos, como os aclamados A Viajem de Chihiro (vencedor do Oscar de melhor animação) e Akira.

Perfect Blue mesmo que seja pouco conhecido, é capaz de se enquadrar nesse patamar. Embora a princípio não pareça ser grande coisa, recomendamos que acompanhe calmamente pois logo adquire uma estrondosa movimentação regada de muito suspense. O diretor Satoshi Kon confessou em entrevista que ao retratar o romance do escritor Yoshikazu Takeuchi, procurou se afastar dos clichês típicos da animação japonesa e, tendo uma abordagem altamente realista e uma animação aprimorosa (isto graças ao estúdio MadHouse), o resultado não foi nada menos do que esplêndido.

O enredo gira em torno de Mima, uma jovem e promissora cantora de música popular que decide abandonar seu grupo, o Charm (composto por mais duas amigas) para tentar a carreira de atriz. Porém, embora ela acredite que não encontrará dificuldades em sua nova carreira, a realidade logo se mostra totalmente diferente.

Mima logo percebe que para ser atriz terá de recomeçar sua vida praticamente do zero e sua fama como cantora não poderá ser útil se ela quiser ser reconhecida como uma profissional de talento e não mais um "rostinho bonito". Á incentivo de seu produtor, ela se despede dos fãs após um último show e aceita atuar como mera figurante em um seriado policial com atores já consagrados. Porém, para não perder a chance de continuar a trabalhar como atriz, Mima aceita, mesmo contra a vontade de sua amiga e acessora, o papel de uma personagem que se tornará importante para a trama no futuro. O grande problema é que ela deverá dramatizar uma violenta e realista cena de estupro.

Após conlcuir a cena, mesmo Mima recebendo elogios da produção do seriado, ela começa a se sentir pertubada consigo mesma principalmente quando seus antigos fãs começam a criticá-la. Mas, incapaz de abandonar seu sonho mesmo diante de tantos empecilhos, Mima continua tentando trilhar seu caminho como atriz, chegando até a posar nua.

Logo, seu prestígio entre os fãs da época do grupo Charm começam a declinar vertigiosamente enquanto sua carreira de atriz mantém-se instável. Ela assiste, entristecida, o crescente sucesso do Charm e seu arrependimento parece auxiliar as dificuldades em interagir com os profissionais do mundo televisivo.
Mas o maior problema de Mima reside nos estranhos acontecimentos que passam a rodeá-la. O que começou com um estranho diário virtual criado por um fã e conhecido como A Casa da Mima, se torna um pesadelo ao retratar com riqueza de detalhes e precisão assustadora, detalhes do seu dia-á-dia, fazendo a jovem descobrir que está sendo constantemente observada por alguém desconhecido.

Não demora para que Mima passe a sofrer atentados que atingem também pessoas ao seu redor e tudo leva a crer que tais atos criminosos possuem conexão com um fã obcecado de tendências psicóticas(que acompanha assiduamente o tal Casa da Mima).
Com tudo isso a vida de Mima passa a se tornar um inferno. A certeza de estar sendo observada, a ocasional presença de um fã doentio, as pressões de seus superiores, e o descaso da mídia começam a deixá-la paranóica. E essa paranóia gera alucinações, lapsos de consciência e confusão de identidade, deixando Mima extremamente vulnerável.

As cenas em que se é mostrado o confronto psicológico, a esquizofrenia, a ilusão x realidade é cuidadosamente elaborado para gerar um suspense perturbador. A "outra" Mima parece onipresente e onisciente parecendo manipular todos ao seu redor e deixando a incógnita só respondida nos momentos finais: duas faces da mesma pessoa?
Perfect Blue é indispensável para aqueles que apreciam uma boa história que retrate a realidade multifacetada da sociedade, mostrando uma história que pode acontecer com qualquer um de nós.

~*~

FanFics - Divinos Pecados - capítulo 12

Dúvida

~*~

  Os dois shinobis pararam á sombra do toldo de uma lanchonete, sentindo o suor espalhar por seus corpos. Áquela hora da tarde era realmente insuportável para se andar debaixo do sol.

  Temari olhou para os turistas na vã esperança de que Ino Yamanaka se materializasse na sua frente. Aquela inútil acreditava que nada de ruim poderia lhe acontecer porque, provavelmente, nunca na vida teve de encarar o perigo de frente. Sabia só de ver a personalidade e a maneira como a loira se preocupava que ela nunca participou e encarou a morte em um campo de batalha. E isso porque SEMPRE esteve sendo protegida por homens, como uma donzela indefesa.

  "Bem diferente de você."

  Ino Yamanaka realmente parecia uma princesa de contos de fadas e possuía tanta massa encefálica quanto uma. O que diabos os homens são tão atraídos por mulheres fracas e sentimentais como ela?

  E como Gaara poderia ser atraído também?

  A kunoichi suspirou, emburrada. Aquela garota não chegava sequer aos pés de seu irmão e agora, por ser tão ingênua, poderia acabar desgraçando a própria vida.

  Sentiu algo gélido em sua bochecha e recuou assustada pelo choque térmico. Shikamaru riu da reação e lhe entregou uma lata de refrigerante.

- É bom beber alguma coisa ou pode acabar tendo uma desidratação.

  Á contragosto ela aceitou, tratando logo de sorver um grande gole. Shikamaru observou o movimento do líquido descendo pela garganta dela, não podendo deixar de notar as gostas de suor que escorriam do pescoço para uma parte dos seios fartos visíveis pelo decote do quimono.

  "Tentador.", pensou, bebendo um gole de sua própria lata. E, enquanto bebia, não percebeu o discreto olhar de Temari acerca do movimento de sua garganta e o suor no pescoço.

- Desculpa ter pedido a ajuda de vocês para procurar a Ino. 

- Tudo bem. - ela respondeu olhando para a própria lata. - Fez certo em nos chamar.

- ...é que a polícia daqui só iria se mexer se o  mandado de busca partisse de alguém influente.

- Você se preocupa muito com Ino, não?

  Shikamaru olhou intrigado para a loira. Seria possível que era...? Não, Temari não era esse tipo de mulher, muito embora tivesse notado que ela estava um pouco incomodada nas vezes em que citara o nome da amiga. E depois de ter retribuído o beijo e tido aquela conversa na porta do quarto, era evidente que Temari estava querendo alguma coisa, mas seu orgulho provavelmente a impedia.

 Mulheres eram tão problemáticas!

- A Ino é minha amiga e companheira de equipe. - Shikamaru começou, fazendo-se desentendido. - Já participamos de muitas missões e ela sempre foi a mais vulnerável.

- Sei disso muito bem. Aquela vez em que lutamos juntos contra os caras que sequestraram o Gaara ela praticamente não ajudou em nada.

  Shikamaru deu um risinho, pois nisso tinha de concordar. Porém, Ino era sua amiga e de certa forma era seu dever sair em defesa dela nem que fosse só um pouco.

- A Ino pode ser péssima kunoichi mas é uma boa médica. Sem contar que ela tem um dom absurdo de conquistar a simpatia dos outros, o que facilita em obter dados para as missões.

  Temari tratou de não deixar transparecer que os comentários daquele preguiçoso sobre a outra a deixavam incomodada. Afinal, desde quando ela, que era Sabaku no Temari, ficaria com ciúmes de uma reles garota de Konoha?

- Ontem quando você disse uma coisa eu fiquei pensando...

  Temari estancou. Maldita hora que deixara escapar - ainda que de forma discreta - que sentia desejo por aquele problemático? Se ele a colocasse contra a parede agora, o que iria dizer e fazer?

- É verdade que você foi mesmo sacerdotisa da Floresta Proibida?

- ...h-hai. - respondeu um pouco desapontada e aliviada, mas logo estreitou os olhos. -       Por acaso acha que eu não combino com esse tipo de coisa?

- Oe, calma! Eu não disse isso! - Shikamaru recostou-se no mesmo muro em que ela havia encostado, ficando mais perto do que deveria. - Ao contrário do que você pensa, eu não a acho nem um pouco masculinizada. Muito pelo contrário.

  Temari o encarou, séria.

- Afinal, uma mulher que seja capaz de sobrepujar minha concentração e que me faz levantar cedo só para acompanhá-la em seu último dia na vila, sóp ode ser uma mulher fascinante. Foi o que meu pai disse e eu tenho de concordar com ele.

  Castanhos sobre verdes. Temari nunca esperara esse tipo de coisa, mas sabia que deveria dizer ou fazer alguma coisa. Mas antes que decidisse, Shikamaru já estava a lhe erguer o queixo com uma das mãos enquanto a outra afastava uma mecha de cabelo loiro para trás da orelha. E não é que ela estava usando brincos?

  Quando sentiu os lábios dele encostarem-se nos seus, soube que não precisaria pensar em mais nada.

- HEY!!! Shikamaruuuuu! Temariiiii!!!

  Os dois shinobis se afastaram bruscamente, olhando para a multidão de onde vinha uma voz conhecida. E então viram metros á frente, uma garota lhes acenando animada enquanto procurava abrir caminho entre as pessoas.

 "Ino! Ela SEMPRE tinha de estragar tudo!"

  A garota chegou exausta diante dos dois, carregando algumas sacolas. A vontade de Temari era pegar seu leque e fazer a loira voar para bem longe dali mas antes que colocasse em prática seu plano homicida, Shiakaru falou, enfezado.

- Onde você se meteu, Ino? Será que não sabe o quanto é perigoso uma turista andar sozinha em Karnak?
- Eu sei me cuidar!

- Sabe se cuidar, não me faça rir...

  A kunoichi estreitou os olhos. Se tinha uma coisa que odiava era o fato dos outros subestimassem sua pessoa, tivessem razão ou não.

- Seguinte, Shika: eu não quero ficar ouvindo essa ironia! Como pode ver, nada me aconteceu e eu ainda fiz ótimas compras! Você costuma pensar demais e sua cabeça super desenvolvida formula as idéias mais bizarras que alguém pode imaginar!

  " Bizarro" era o que Shikamaru estava vendo se aproximar. Pensou que até poderia ser alguma miragem causada por insolação, mas ao notar que Temari também parecia incrédula, soube que não era uma ilusão. Era muito pior por ser real.

  Ali estava o kazekage Sabaku no Gaara com os braços cobertos por sacolas de compras e ostentando um semblante um tanto quanto apatetado. Como se não bastasse, ele usava um chapéu de pano com abas típico de turistas e resquícios de protetor solar no rosto. Ao vê-lo, Ino sorriu simpática.

- Ah, Gaara-sama muito obrigada por carregar minhas compras! Agora não preciso mais te incomodar com isso.

- ...não foi incômodo.

- Mas isso não é coisa que o kazekage deve...- verdes sobre azuis e o rubror em uma das faces. - Hãn...bom, pode deixar que o Shikamaru carrega as coisas até o hotel, afinal ele não está fazendo nada mesmo!

  Extremamente nervosa, Ino procurou ajudá-lo a soltar as sacolas fazendo com que seus rostos ficassem tão próximos que a garota sentiu olhos verdes psicóticos sobre si.

- Bom, se a "princesinha" já está aqui é melhor avisar a polícia para cessar as buscas.

- Polícia? Como assim?!

- Quando você deu o seu "grito de liberdade" - começou Shikamaru. - Resolvemos te procurar afinal todos deveriam saber que Karnak é perigosa.

- Mas eu sequer passei cinco horas na rua. Não havia necessidade de mandar a polícia me procurar!

- Diga isso ao kazekage.

  Ino voltou-se para Gaara e por um momento ela pareceu notar um rubror no ruivo que não era causado pelo sol. Á bem da verdade se não fosse salva por ele, agora poderia estar nas mãos daqueles homens. Notou, porém, que Shikamaru e Temari os observavam e ela logo tratou de desviar o assunto.

- Já que estou bem e coisa e tal, acho que podemos voltar para o hotel, né? Afinal, temos que nos arrumar para a festa!

~*~

  Kakashi abriu o chuveiro para que a água fria caísse em seu rosto e colocasse seus pensamentos em ordem.
  Sabia que havia exagerado, passado dos limites e agora o estrago fora feito. Sempre soube - como todos - que Sakura gostava de Sasuke e ela nunca escondeu isso. Mesmo que já houvesse se passado anos desde que o Uchiha se tornara um criminoso procurado, Sakura ainda se importava com ele, exatamente como Naruto.

  Seus três únicos alunos haviam se tornado a causa de seus maiores problemas. Naruto por ter a kyubbi, Sasuke por ser extremista e Sakura por lhe deixar apaixonado.

 " Maldição! Eu deveria ter sido mais compreensivo com ela. Falei tudo aquilo por impulso e a acabei magoando. Sakura não brincaria com meus sentimentos, ela nunca foi esse tipo de garota, eu sei muito bem pois a vi crescer. Ela é jovem e inexperiente, é natural que não saiba lidar com essas coisas...mas será que durante todo esse tempo em que esteve comigo ela fantasiava a imagem de Sasuke?"

  Kakashi descartou essa hipótese tão logo fechou o chuveiro. Sakura o queria esse tempo todo, caso contrário não teria se aproximado daquela forma. E as lágrimas dela durante a discussão não eram falsas. As lágrimas de Sakura nunca eram falsas.

 "Faça com que Sakura o ame."

 O copy ninja se encarou no espelho embaçado. No início, jamais quis que sua ex-aluna o amasse. Mas agora que estava sentindo aquela dor que lhe dilacerava o peito, desejava que fosse capaz de cumprir o pedido feito pelo casal Haruno.

  Foi até o quarto e, enquanto se vestia, soube que precisava falar com Sakura. Mas como fazer isso agora, depois de criticá-la e ouvir daqueles lábios o nome do outro?

  Suspirou. Ainda estava nervoso, precisava se acalmar antes, caso contrário sua relação com ela só pioraria. Relação? Desde quando a estava vendo como sua companheira?

  Balançou a cabeça. Não poderia ir até o quarto dela. Seria bom que Sakura pensasse um pouco sobre o que sentia e o que realmente estava querendo. Ela não poderia ser tão idiota á ponto de abandonar um homem como ele para viver na ilusão de Sasuke.

  E Kakashi não era homem de mendigar amor ou aceitar que uma mulher - mesmo que esta lhe fosse especial - ficasse consigo pensando em outro.
  Emburrado, deitou na cama, pegou seu volume de Icha Icha e tratou de ocupar a mente com outra coisa.

~*~

  Quando sentiu novamente o ar ventilado do hotel, Ino suspirou aliviada.

- Ah! Não vejo a hora de tomar um bom banho e arrumar as compras na mala que ganhei em uma das lojas!

- Quando voltarmos á Kononha o pessoal achará que você é muambeira.

  Ino se limitou a fuzilar Shikamaru com os olhos, tratando de pegar algo em uma das muitas sacolas.
- Eu ainda não sei porque me dou ao trabalho de comprar lembrancinhas pra você! - lhe entregou um pacote com presentes. -  Da próxima vez, agradeça!

  Pegou outra sacola, menor e entregou á Temari.

- Aqui estão algumas lembrancinhas pra você! - sorriu, maldosa. - E esse chaveirinho aqui é pra levar sempre contigo!

  Temari pegou os presentes, notando que o tal chaveiro era extremamente parecido com...Shikamaru. Gota.

- Aposto que gastou todo o dinheiro nessas compras.

- O dinheiro é meu e eu faço o que quiser! - respondeu despeitado ao comentário do jounin. - Comprei lembranças para todos, mas a maior parte das coisas são minhas mesmo...bom, vou indo para o quarto me arrumar e ver como a Sakura está afinal nessas horas ela e o Kakashi já devem ter se comido. Shika, carrega as compras pra mim?

- ...isso é muito trabalhoso..
.
- Não reclame, eu te dei presentes!

  Shikamaru abriu a boca para retrucar sobre o fato de Ino fazer esse tipo de chantagem, mas resolveu ficar quieto. Afinal, discutir seria muito problemático. Pegou as sacolas e, enquanto a amiga já começava a subir as escadas, ele se virou para Temari.

- Gomen. Posso te buscar no horário combinado para irmos na festa?

- ...sim.
  Ele sorriu discretamente, sendo retribuído da mesma forma.

  Quando os dois shinobis de Konoha já haviam sumido de vista, Gaara parou ao lado da irmã, tirando o chapéu e mantendo-o nas mãos.

- Você comprou isso?

- ...foi a Ino. Ela alegou que minha pele é muito clara e eu devo me proteger do sol. E então colocou o chapéu em mim e fez com que eu passasse aquele tal de protetor solar no rosto.

  Falou, recordando-se de Ino colocando protetor em sua mão e pedindo que ele espalhasse pelo rosto em movimentos circulares.

  " Quem diabos essa garota pensa que é para ter essa intimidade com o Gaara? Será que ela é tão burra que considera o kazekage uma pessoa comum?"

- Temari. - a voz dele era fria. - Nem uma palavra sobre isso.
- ...tudo bem.

  Gaara seguiu em direção aos aposentos, agradecendo em silêncio por ser Temari quem o acompanhava naquela missão. Se fosse Kankurou teria de aguentar as perguntas e piadinhas impertinentes além de supostas dicas absurdas sobre tudo o que estava parecendo acontecer.
  E ele precisava pensar.

~*~

 " O que foi que eu fiz?"

  Sakura ainda não conseguia raciocinar com clareza. Já não sabia dizer á quanto tempo estava sentada no sofá, chorando e odiando á si mesma.

  Por quê aquilo teve de acontecer? Por que disse o nome de Sasuke se era Kakashi quem estava ali e que realmente queria?

 " Sabe, ficarmos com alguém pensando e fantasiando estar com quem realmente queremos."

- Eu sou assim tão desprezível? - murmurou para si. -Não pode ser!

  Você é desprezível, sim. Uma pessoa mesquinha e orgulhosa. Sempre se acha a melhor entre todos. Você vivia brincando com os sentimentos de Naruto só para satisfazer o próprio ego. Usava os sentimentos de seu melhor amigo apenas para aliviar sua frustação por ser constantemente desprezada por Sasuke.

 E agora que Naruto já não coloca mais os sentimentos por você como prioridade, você buscou alguém que pudesse manipular. O problema é que Kakashi Hatake não é tolo.

 "Não! Eu não estou usando o Kakashi para satisfazer meu ego! Eu gosto dele. Gosto muito!"

  Então por que disse o nome do outro? Você realmente ama Sasuke Uchiha mesmo depois de tudo o que ele fez? Continua amando alguém que abandonou você á vários anos e que jamais lhe demonstrou qualquer afeto? Enquanto você alimentava sonhos e esperanças, Sasuke apenas alimentava suas próprias ambições. Enquanto você o aguardava pacientemente vendo a adolescência passar diante de seus olhos, Sasuke alimentava o próprio ódio e ia para a cama com uma ruiva oferecida que ele mesmo integrara em seu grupo rebelde.

  O amor sempre viera unicamente de sua parte.

  E você sempre soube disso, mas se recusava a acreditar. Até aquele dia...


***flash-back***

  Era uma noite típica em Konoha. Sakura havia sido escalada para ficar de plantão no hospital  e se via praticamente sozinha áquela hora da madrugada. Todos os seus amigos - inclusive Naruto - haviam saído em missão junto com Kakashi e Yamato para dar apoio á equipe de Neji, que parecia estar com problemas. Ela queria ter ido, mas estando Tsunade doente e Shizune ocupada com a burocracia, era preciso que uma boa ninja médica estivesse na cidade caso houvesse algum problema.

  Mas até o hospital estava deserto e, após fazer uma última ronda pelos corredores e certificar que os poucos pacientes internados estavam bem, a kunoichi decidiu retornar á sua sala particular para tomar um chá. E, quando abriu a porta, o viu.

  Sasuke Uchiha estava parado ali ao lado da janela aberta, procurando inutilmente conter um sangramento gerado por um profundo corte em seu peito.

- ...finalmente. - foi a única coisa que ele murmurou antes de cair exausto no chão.

  No primeiro momento Sakura apenas manteve-se imóvel, ponderando se aquilo era ilusão ou realidade. Só despertou quando o Uchiha gemeu á contragosto devido á dor.

  E, sem sequer perguntar a razão ou ter consciência se o que fazia era certo ou errado, Sakura colocou o rapaz sobre um dos leitos do hospital e logo tratou de curar o ferimento com suas técnicas medicinais.

  Enquanto fazia, Sakura sentia seu coração bater acelerado. Era inacreditável que Ele estivesse ali, sozinho ao seu lado depois de tanto tempo. E estava tão bonito...o tórax, apesar do ferimento, era musculoso e ela arriscou tocá-lo com a ponta dos dedos, concluindo que a pele de Sasuke era macia. Sorriu, contendo as lágrimas de felicidade que teimavam em querer descer por seu rosto.

  Sasuke estava ali e para a tola garota apaixonada as razões para tal não importavam. Sua mente já estava a formular diversas coisas e perguntas, chegando até a traçar em como seria seu futuro ao lado dele agora.
  Quando terminou, percebeu que ele a encarava com seus olhos negros desprovidos de brilho. A garota corou e retirou a mão, sentindo seu peito gelar.

- Por que tratou de mim mesmo depois de tudo o que eu me tornei?

  A garota o encarou com seus grandes olhos verdes.

- O dever de um médico é salvar vidas.

  Por um momento Sasuke pareceu decepcionado com aquela resposta. Sakura apertou as duas mãos sobre o colo, reunindo toda a coragem que tinha. O destino havia lhe dado uma chance e ela sabia muito bem que deveria agir.

- E...eu o amo...Sasuke-kun.

  Sakura não teve coragem de encará-lo após confessar. Como poderia? E não esperava que ele segurasse seu queixo para então cobrir sua boca em um beijo.

  A garota estremeceu. Estava MESMO acontecendo? A mão de Sasuke segurou seu pescoço a trazendo para perto e ela fechou os olhos em meio á um suspiro.

  Aquilo era a realização de um sonho. Finalmente estava nos braços de Sasuke, tendo seu amor correspondido. A espera não fora em vão. Porém, havia algo errado. Os beijos que tanto ansiava eram frios e agressivos feito gelo e a maneira como as mãos dele passeavam por seu corpo a deixavam um pouco incomodada. Mas talvez essas coisas fossem assim mesmo. Era a primeira vez que "ficava" com um rapaz e tinha muita sorte de ser com a pessoa que sempre quis.

 Recuou sutilmente mas logo permitiu que os beijos descessem por seu pescoço enquanto as mãos ágeis do ninja desabotoavam seu uniforme.

 "Espera. Está indo rápido demais."

  Sakura afastou o rosto do Uchiha, trêmula. A maneira como ele a tocava parecia tão...rude.
- O que foi? - murmurou ele com a voz embargada. - Não era isso que você sempre quis de mim?

 A garota tentou articular as palavras, mas foi impedida quando Sasuke a deitou na cama, segurando seus braços com uma das mãos acima de sua cabeça.

- Vou lhe dar o que você quer.

  Ela fechou os olhos com força. Não, não era assim que queria. Não era isso que desejava, não agora. Os toques de Sasuke estavam mais intensos e a pressão que ele fazia em seus pulsos a estavam machucando.
  Tentou desvencilhar, mas não conseguiu e gemeu quando os dedos dele passaram a estimulá-la. E, embora sentisse prazer com aquilo, por alguma razão sentia-se violada.

 "Eu não quero!"

- Pa-pare, Sasuke...pare.PARE!

  Reunindo sua força, Sakura conseguiu se librar das mãos que a prendiam e empurrou o rapaz para trás, tratando de se afastar desajeitada e trêmula.

  Ficaram ambos em silêncio, com a kunoichi incapaz de encará-lo. Por mais que gostasse de Sasuke, era madura o suficiente para perceber que não queria entregar sua virgindade á ele. Não agora.

  Foi como se o seu coração se despedaçasse quando Sasuke levantou-se da cama, colocou a camisa e passou por ela para pegar a katana, colocando-a na cintura.

- Obrigado por curar meu ferimento.

  Apenas isso.

  No minuto seguinte, Sakura já estava novamente sozinha.

***flash-back***

  "Depois disso e de quase tentar me matar, como ainda posso gostar de Sasuke? Eu não tenho qualquer resquício de amor próprio? Eu não gosto mais dele!"

 "Não se preocupe. Vai ficar tudo bem."

  Kakashi. Com ele estava sendo diferente desde o início. Ele era carinhoso, companheiro e ela não estava nem um pouco receosa em se entregar á ele de corpo e alma. Então por que dissera o nome de Sasuke se era só Kakashi em quem pensava?

  Sua cabeça doía e seus olhos latejavam. O que estava lhe acontecendo só poderia ser castigo.

 "Talvez o meu destino seja ficar sozinha."

  Deixou-se cair no sofá e a sensação de vazio a fez desejar desaparecer.

~*~


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